terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

GRATIDÃO

Quando o dia amanhece
e o sol aparece,
agradeço a Deus com uma prece,
o aventurado dom que ele oferece.

A vida magnífica que
a manhã fornece,
com a divina dádiva
que me pertence.

O entusiasmo pleno de
gratidão, em mim floresce.





Charrua - LUIS EDUARDO GARCIA AGUIAR (Livro Poesitando)

JOAQUIM CARDOZO - SOBRE O RECIFE

SONETO SOMENTE


Nasci na várzea do Capibaribe
De terra escura, de macio turvo,
De luz dourada no horizonte curvo
E onde, a água doce, o massapé proíbe
Sua presença para mim se exibe
No seu ar sereno que inda hoje absorvo,
E nas noites com negridão de corvo,
Antes que ao porto do céu arribe
A lua assim só tenho essa planície...
Pois tudo quanto fiz foi superfície
De inúteis coisas vãs, humanamente.
De glórias e de alturas e de universos
Não tenho o que dizer nestes meus versos:-
Nessa várzea nasci, nasci somente.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

JOAQUIM CARDOZO - SOBRE O RECIFE

TARDE NO RECIFE


Tarde no Recife.

Da ponta Maurício o céu e a cidade.

Fachada verde do Café Máxime.

Cais do Abacaxi. Gameleiras.

Da torre do Telégrafo Ótico

A voz colorida das bandeiras anuncia

Que vapores entraram no horizonte.

Tanta gente apressada, tanta mulher bonita.

A tagarelice dos bondes e dos automóveis.

Um carreto gritando — alerta!Algazarra, Seis horas. Os sinos.

Recife romântico dos crepúsculos das pontes.

Dos longos crepúsculos que assistiram à passagem

[dos fidalgos holandeses.

Que assistem agora ao mar, inerte das ruas tumultuosas,

Que assistirão mais tarde à passagem de aviões para as costas

[do Pacífico.

Recife romântico dos crepúsculos das pontes.

E da beleza católica do rio.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

CARLOS PENA FILHO - SOBRE O RECIFE

O INÍCIO

“No ponto onde o mar se extingue (IV)

E as areias se levantam

Cavaram seus alicerces

Na surda sombra da terra

E levantaram seus muros

Do frio sono das pedras.

Depois armaram seus flancos:

Trinta bandeiras azuis plantadas no litoral.

Hoje, serena flutua, metade roubada ao mar,

Metade à imaginação,

Pois é do sonho dos homens

Que uma cidade se inventa.”


(Guia Prático da Cidade do Recife – O Início, 1999:129)

CARLOS PENA FILHO

O FIM

“Recife, cruel cidade,

águia sangrenta, leão.

Ingrata para os da terra,

boa para os que não são.

Amiga dos que a maltratam

inimiga dos que não,

este é o teu retrato feito

com tintas do teu verão

e desmaiadas lembranças

do tempo em que também eras

noiva da revolução.”


(Guia Prático da Cidade do Recife – O Fim, 1999:142-143)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

CARLOS PENA FILHO

DESMANTELO AZUL


Então pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas
depois vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas
Para extinguir de nós o azul ausente
e aprisionar o azul nas coisas gratas
Enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas
E afogados em nós nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço
E perdidos no azul nos contemplamos
e vimos que entre nascia um sul
vertiginosamente azul: azul.

MANUEL BANDEIRA

DESENCANTO

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.-
Eu faço versos como quem morre.






O ÙLTIMO POEMA

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

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Canto de Natal

Manuel Bandeira


O nosso menino

Nasceu em Belém.

Nasceu tão-somente

Para querer bem.


Nasceu sobre as palhas

O nosso menino.

Mas a mãe sabia

Que ele era divino.


Vem para sofrer

A morte na cruz,

O nosso menino.

Seu nome é Jesus.


Por nós ele aceita

O humano destino:

Louvemos a glória

De Jesus menino.


A poesia acima foi extraída da "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2001, pág. 137.

Manuel Bandeira: sua vida e sua obra estão em "Biografias".

domingo, 3 de fevereiro de 2008

VINICIUS DE MORAES

" Eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os meus amores,
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida ...
mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro,
embora não declare e não os procure sempre ..."

CLARICE LISPECTOR



O SONHO


Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificultades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.


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"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença"

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

DRUMMOND




" A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o
desperdício da vida está no
amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada
arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento, perdemos também a
felicidade "

DRUMMOND

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.


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" Sentimos saudades
de momentos de vida
e momentos de pessoas "


Carlos Drummond de Andrade