domingo, 9 de dezembro de 2007

MÁRIO QUINTANA

OS POEMAS


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas , então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti ...

FERNANDO PESSOA

INICIAÇÃO

Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo
........................................................
O corpo é a sombra das vestes
que encobrem teu ser profundo.

Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a tí sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro

Tiram-te os anjos a capa;
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos de Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, nao tens nada :

Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma exerna,
Mas vês que são teus iguais.
.......................................................

A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.
.......................................................

Neófito, não há morte.